O que é pejotização e por que ela é ilegal?
Pejotização é quando uma empresa obriga ou induz um trabalhador a abrir um CNPJ (normalmente como MEI) para prestar serviços, mesmo que, na prática, exista uma relação típica de emprego, com subordinação, habitualidade e pessoalidade.
Ou seja, você trabalha como se fosse empregado, mas a empresa te paga como se fosse um “prestador de serviços”. Isso reduz os custos da empresa, mas retira de você direitos como 13º, férias, FGTS, INSS e proteção legal em caso de demissão.
De acordo com a legislação brasileira (art. 2º e 3º da CLT), essa prática é ilegal. Quando a Justiça reconhece que houve pejotização, o vínculo de emprego pode ser reconhecido retroativamente com o pagamento de todos os direitos devidos.
Como saber se fui pejotizado?
Você pode estar sofrendo pejotização se:
Precisa cumprir horário fixo definido pela empresa;
Recebe ordens diretas de chefes ou supervisores;
Não pode mandar substituto para o seu lugar;
Trabalha de forma contínua e sem autonomia;
Usa os equipamentos e a estrutura da empresa;
Tem um “salário” mensal fixo, sem liberdade de negociação real.
Mesmo que você tenha um contrato PJ ou MEI, se esses elementos estão presentes, a Justiça pode entender que existe relação de emprego disfarçada.
Exemplo prático:
Imagine o caso de uma assistente administrativa que abriu um MEI para prestar serviços a um único escritório. Ela cumpre horário das 8h às 17h, responde a um chefe, não presta serviços para outras empresas e recebe um valor fixo mensal. Embora o contrato diga que ela é “autônoma”, todas as características mostram que ela é, na prática, uma funcionária CLT.
Quais são meus direitos se a Justiça reconhecer o vínculo CLT?
Se for reconhecido que você foi pejotizado, você poderá receber:
Registro em carteira retroativo;
Férias + 1/3 constitucional de todos os anos trabalhados;
13º salário;
Depósitos do FGTS + multa de 40% se houve demissão sem justa causa;
Horas extras, se trabalhava além da jornada legal;
Indenizações por danos morais (em casos graves);
Recolhimentos ao INSS, que impactam na aposentadoria.
Cada caso será analisado com base nas provas e na realidade da prestação de serviços.
Posso entrar com ação mesmo sendo PJ?
Sim, mesmo tendo um CNPJ ou MEI, o trabalhador pode ingressar com uma ação na Justiça do Trabalho pedindo o reconhecimento do vínculo empregatício e o pagamento dos direitos violados.
É importante lembrar que o prazo para entrar com a ação é de até 2 anos após o fim da relação de trabalho, podendo cobrar até 5 anos de retroativos.
Como comprovar que havia vínculo de emprego?
Mesmo que você tenha sido contratado como PJ, a Justiça do Trabalho analisa a realidade da prestação de serviços. Ou seja, não é o contrato em si que define o vínculo, mas o modo como você exercia suas funções no dia a dia.
Se existiam características típicas de um emprego formal, é possível comprovar isso com documentos, mensagens, testemunhas e até a estrutura do ambiente de trabalho.
Documentos que ajudam a comprovar vínculo empregatício
Pagamentos mensais com valores fixos, geralmente realizados por transferência ou PIX, são fortes indícios de que havia salário. Além disso, se você emitia notas fiscais sempre para a mesma empresa, com periodicidade semelhante à de um contracheque, isso pode reforçar a prova de habitualidade.
Outro ponto importante são os contratos PJ que, mesmo chamando o trabalhador de “prestador de serviço”, impõem obrigações típicas de um funcionário, como cumprimento de horário, metas e exclusividade. Também há casos em que a própria empresa mantém controle de ponto ou sistema de jornada, o que pode ser usado como prova.
Conversas e comunicações que indicam subordinação
As trocas de mensagens com gestores, coordenadores ou donos da empresa são uma fonte riquíssima de provas. Conversas no WhatsApp em que você recebe ordens, instruções detalhadas, cobranças ou alertas por horário demonstram subordinação direta.
E-mails com tarefas, metas ou avaliações também ajudam a mostrar que você era supervisionado como um funcionário. Quando estas comunicações ocorrem de forma constante, reforçam ainda mais o argumento de que havia uma relação de emprego disfarçada de contrato PJ.
Testemunhas e colegas de trabalho
Além dos documentos, a Justiça também considera depoimentos de pessoas que acompanharam sua rotina. Se colegas de trabalho, supervisores ou até clientes perceberam que você estava sempre presente na empresa, tinha horário fixo, cumpria ordens e agia como um empregado comum, os relatos deles podem fazer toda a diferença no processo.
Mesmo sem documentos formais, o testemunho consistente de quem viveu essa realidade ao seu lado é um elemento muito relevante na Justiça do Trabalho.
A importância da ajuda jurídica
Ter provas é essencial, mas saber apresentá-las corretamente é o que realmente fortalece o seu caso. Um advogado trabalhista saberá identificar quais documentos e testemunhas são mais estratégicos, além de formular os pedidos certos e conduzir o processo com base na jurisprudência atual.
Muitos processos de pejotização vencem não apenas porque há provas, mas porque há um bom direcionamento jurídico desde o início. Por isso, se você reconheceu sua situação neste artigo, considere buscar orientação profissional o quanto antes.